A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), instituição integrante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, tem desenvolvido há décadas um programa de pesquisa de melhoramento genético que tem permitido disponibilizar para os cafeicultores de Minas Gerais, e também dos demais estados produtores do País, sementes provenientes de novas cultivares de café arábica, tanto para a implantação de novas lavouras, como para substituição e/ou renovação das plantações já existentes.
O desenvolvimento permanente de cultivares de cafeeiros que tenham vários atributos positivos de interesse dos produtores rurais, como maior produtividade, tolerância e resistência a doenças e pragas, e que gerem grãos de alta qualidade e que se adaptem às condições climáticas das diferentes regiões cafeeiras do País, tem sido uma busca incansável dos diferentes programas de melhoramento genético desenvolvidos pelas instituições que pesquisam café há várias décadas no Brasil.
Dessa forma, as pesquisas de melhoramento genético visam desenvolver cultivares que possuam e expressem tais atributos, além de outras características específicas desejáveis, em sintonia com as demandas cada vez mais exigentes de todos os elos da cadeia produtiva do café, do produtor ao consumidor, ou seja, do grão à xícara. Como o café é uma planta perene, esses estudos, pesquisas e conhecimento da genética da planta, em geral, podem levar em média duas décadas, ou até mais, dependendo dos objetivos que se deseja alcançar.
Assim, no contexto da cafeicultura mundial, para que o Brasil mantenha seu protagonismo de várias décadas, de maior produtor e exportador, é necessário que os cafeicultores brasileiros que atuam em dezesseis estados da Federação em quase 1.500 municípios, nos quais se produz os Cafés do Brasil, busquem, de forma permanente, cultivares com maior produtividade, resistência a fatores bióticos e abióticos, mas que também sejam adaptadas a colheitas mecanizadas, sistemas de podas e que se utilizem de outras tecnologias que reduzem custos e agreguem valor ao produto final, a fim de atender os mercados interno e externo, que são cada vez mais exigentes na questão da sustentabilidade econômica, social e ambiental.
O emprego de cultivares, entre tantas outras tecnologias de manejo, colheita e pós-colheita, desenvolvidas pela pesquisa e aplicadas nas lavouras, conforme se infere e demonstram os dados estatísticos do Observatório do Café, do Consórcio Pesquisa Café, especificamente no quadro Evolução da cafeicultura brasileira nas últimas duas décadas, tem contribuído para manter e consolidar o Brasil como o país protagonista mundial da cafeicultura. Aliás, nesse contexto, vale também destacar que o estado de Minas Gerais responde, em média, por 50% da produção dos cafés brasileiros.
É importante enfatizar que a escolha de cultivares de café se reveste de uma fase muito importante na implantação e/ou na renovação de lavouras, por ser o cafeeiro uma cultura perene que permanecerá obviamente por muitos anos no campo e, assim, essa escolha tem que ser feita de forma criteriosa e alicerçada em parâmetros técnicos e econômicos. Para tanto, vale destacar quatro cultivares de café da espécie arábica desenvolvidas pelo programa de melhoramento genético da Epamig e que estão aptas para serem utilizadas tanto pelos produtores do estado quanto de outras regiões produtoras do País, cujas orientações técnicas e atributos produtivos também estão disponíveis no Portfólio de Tecnologias do Observatório do Café.
Referidas cultivares possuem diversos atributos e, como destaque, a resistência a ferrugem. Entre as cultivares lançadas mais recentemente estão: MGS Aranãs, MGS Ametista, Sarchimor MG8840 e MGS Paraíso 2. Tais cultivares, conforme mencionado, foram desenvolvidas pela Epamig e são hoje de grande interesse para o produtor rural e, por extensão, para a sociedade como um todo, pois reduzem gasto com aplicações de fungicidas para o controle da ferrugem e, mais que isso, proporcionam benefícios diretos e indiretos ao meio ambiente.
Cultivar MGS Aranãs: resistente a ferrugem, tem alta produtividade e se destaca por seus grãos graúdos e bebida de qualidade. Em avaliações no campo, em suas quatro primeiras safras, em área experimental no Vale do Jequitinhonha, apontou produtividade média de 56,48 sacas por hectare e excelente qualidade da bebida. A utilização dessa cultivar resulta na diminuição de custos, uma vez que a característica de resistência a ferrugem permite que os cafeicultores realizem apenas uma aplicação de defensivo ou até mesmo a utilização somente de fungicidas protetores, em anos de baixa safra. E, mais ainda, tem o apelo ambiental por permitir usar menos produtos químicos, o que reduz o impacto no ambiente. Possui frutos vermelhos, maturação intermediária e elevada capacidade produtiva, principalmente em regiões de solos férteis e com precipitação superior a 1600 mm por ano. Apresenta boa adaptação à colheita mecanizada. É indicada especialmente para o Sul de Minas e Vale do Jequitinhonha, mas pode ser cultivada em outras regiões de morro e áreas mais planas da cafeicultura empresarial, mediante avaliação das condições locais.
Cultivar MGS Ametista: com maturação intermediária a tardia dos frutos, a Ametista possui porte baixo e também é resistente a ferrugem. Apresenta frutos vermelhos, elevada capacidade produtiva, sendo responsiva à poda do tipo esqueletamento. É uma excelente cultivar de café para as condições do Cerrado e para regiões de menor altitude e com maiores temperaturas no Sul de Minas.
Cultivar Sarchimor MG8840: apresentando elevada resistência às raças fisiológicas do fungo H. vastatrix prevalecentes, nas regiões cafeeiras do estado de Minas Gerais, a Sarchimor possui resistência do tipo específica ou vertical, estando sujeita à “quebra” dessa resistência pelo surgimento de novas raças fisiológicas do patógeno. Em relação aos demais agentes causais de outras doenças e pragas que atacam o cafeeiro, a cultivar comporta-se como suscetível. Em função da resistência a ferrugem associada a outras características de interesse, essa cultivar está tendo boa aceitação no mercado. É recomendada para plantios em solos mais leves (com maior teor de matéria orgânica). Muito bem adaptada à colheita manual (favorecida pelo porte e arquitetura) e mecânica (frutos desprendem facilmente da planta). Em razão de sua arquitetura (ramos laterais curtos), permite forte adensamento na linha de plantio. Deve-se ressaltar que essa cultivar é indicada apenas para cafeicultura irrigada, pois é exigente em água, além de nutrição. Nesse sentido, por apresentar elevado potencial produtivo, principalmente nos primeiros ciclos de produção, essa cultivar pode exibir algum depauperamento, caso os cafeeiros não sejam adequadamente nutridos.
Cultivar MGS Paraíso 2: tem porte baixo, altura média de 1,99m a 2m e, aos 72 meses, destaca-se pelos frutos graúdos, boa peneira, coloração amarela, e vem apresentando elevada capacidade produtiva, resistência a ferrugem, maturação dos frutos semiprecoces, o que enseja ao produtor iniciar a colheita mais cedo e explorar a maior quantidade de frutos cereja. Apresenta excelente qualidade de bebida com pontuações altíssimas em suas classificações, qualidade pela qual vem se destacando. Essa cultivar apresenta boa resposta a podas e à colheita mecanizada, características atualmente de grande importância na cafeicultura. Indicada para todas as regiões cafeeiras de Minas Gerais.
Acesse cultivares de café desenvolvidas pelas instituições do Consórcio Pesquisa Café no link abaixo: http://www.consorciopesquisacafe.com.br/index.php/2016-05-27-17-05-35
As informações são da Embrapa Café (por Roseane Villela e Lucas Tadeu Ferreira).
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