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Com redução da safra do café arábica, indústria amplia uso de canéfora em blends


Após o Brasil colher, em 2021, a menor safra de café em quatro anos, a indústria torrefadora lida com custos em disparada, dificuldade de repasses no varejo e incertezas sobre o tamanho da colheita em 2022, que, de acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio da Silva, ainda depende da chegada de chuvas mais expressivas para as floradas.

Em entrevista à Reuters na terça-feira, ele citou, ainda, que o setor carece de informações sobre os estoques no Brasil e no mundo, dados esses que seriam importantes para um melhor posicionamento após o custo da matéria-prima ter mais que dobrado ante 2020 na esteira da quebra de safra pela seca e geadas severas em julho.

“Tem muitas especulações, muitas perguntas e poucas respostas. [A oferta em 2022] vai depender muito da florada que vai acontecer daqui a duas semanas, essa florada vai nos dar alguns índices de segurança”, afirmou Celírio diante da expectativa de chuvas no início de outubro que possam despertar as floradas.

“Estamos com vários fatores que estão nos deixando sem respostas, o que é quase imensurável é a seca que houve no segundo semestre do ano passado e ainda o primeiro semestre deste ano”, acrescentou ele, dizendo que, no caso das geadas, é menos complicado ter indicações sobre as perdas para 2022.

Uma demora na publicação dos estoques privados de café do Brasil, um trabalho realizado pela estatal Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), também reduz as informações sobre o mercado de café do País, que além de ser o maior produtor e exportador global da commodity, é o segundo consumidor mundial atrás dos Estados Unidos, disse o executivo.

“A gente também não sabe quais são os estoques dos países importadores. Fica muito complicado saber qual vai ser a necessidade de cada um. Todas essas incertezas estão culminando em aumentos absurdos, a saca de café cada vez mais alta”, disse.

Tanto o café arábica quanto o canéfora (robusta/conilon) subiram mais de 100% em relação ao valor do mesmo período do ano passado, para mais de 1.100 reais e 800 reais a saca, respectivamente, de acordo levantamento do Esalq/USP. O cenário do mercado também deixa o cafeicultor “inseguro” neste momento, comentou Celírio, o que prejudica os novos negócios.

À medida que as floradas ocorram e os produtores tenham de participar mais do mercado, para pagar contas em outubro e novembro, o dirigente da Abic avalia que pode haver mais oferta de café no mercado, com mais vendas dos cafeicultores. Ele também acredita que, enquanto houver gargalos logísticos para exportação, com falta de contêineres, o mercado interno pode se beneficiar.

Repasse de custos

Celírio disse que a indústria tem negociado com os supermercados o repasse dos custos de forma gradativa e que seriam necessários mais aumentos de 35% a 40%. “Há uma queda de braço, a indústria precisa repassar o preço, e o varejo não consegue repassar os preços, há uma discussão para que esse aumento seja paulatino”, afirmou. Ele comentou que a indústria já havia conseguido repassar 6% dos custos e mais recentemente fez o repasse de outros 12%.

Mais canéfora

Uma das poucas certezas neste momento é que a indústria está ampliando o uso de café canéfora (conilon/robusta) nos “blends” da torrefação, após uma safra recorde dessa variedade no Brasil, que não chegou a compensar toda perda vista no arábica, tradicionalmente mais caro.

Segundo ele, a indústria costumava usar cerca 80% de arábica e 20% de conilon nos “blends”, mas essa fatia está mudando. “A qualidade do conilon melhorou muito, e dentro dessa melhoria pode usar um pouco mais de conilon”, destacou, sem especificar um percentual predominante no “blend”. “Este percentual atualmente está mudando, por conta da safra menor de arábica”, acrescentou, lembrando que o conilon também é mais barato.

Procurada sobre o comentário da Abic referente aos dados de estoques privados, que em 2020 foram divulgados em agosto, a Conab disse que seus técnicos estão analisando as informações.

As informações são da Reuters/Money Times.

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